O Verdadeiro Maçom Regular
A Soberana Grande Loja Maçônica do
Brasil, nos últimos dias, assim como ocorrido em tantas Lojas e Obediência
Maçônicas (ou apenas organizações místicas e religiosas), observou um típico
caso de agressão e ignorância que fez os Irmãos e Irmãs de seu quadro voltar à
reflexão acerca da tão discutida Regularidade Maçônica. Um indivíduo
intitulando-se maçom há 29 anos postou comentários na Fan Page da Obediência no Facebook questionando e vociferando
injúrias e agressividade excessiva aos membros da Ordem, acusando-nos de
“irregulares” e “mentirosos” pelo fato da participação de mulheres em nosso
meio em pés de igualdade, como verdadeiras maçonas, venerando Lojas e até mesmo
ocupando, como há alguns anos atrás, o cargo de Grã-Mestras da Obediência.
Não nos é necessário, obviamente,
mencionar o nome do indivíduo e nem questionarmos sua filiação e veracidade de
identidade, uma vez que não nos atemos a questões tão ínfimas. Não é nossa
intenção retribuirmos na mesma moeda. Coube-nos, porém, como investigadores da verdade
e procurando lapidar nossas imperfeições, refletir sobre o ocorrido como forma
de entendimento do cenário maçônico na atualidade. São algumas possíveis
conclusões destas reflexões que compartilhamos com Irmão de todo orbe por meio
deste breve artigo, com o intuito de reavaliarmos nossa forma de pensar a
tríade que nos representa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
A internet se tornou uma terra de
ninguém, onde grupos ou indivíduos que comungam de uma mesma opinião se unem
para atacar seus adversários sem escrúpulo algum, esquecendo-se das mais
básicas regras sociais de respeito, educação e temperança. Atrás de seus
computadores a maioria das pessoas é tomada por uma suposta coragem para
agredir, ofender e impor suas opiniões sem o mínimo de discernimento e
consciência em suas ações. Observando sites, blogs, perfis pessoais e Fan Pages de maçons espalhados pelo país
e pelo mundo, o comportamento é o mesmo. Não é preciso muito trabalho para
observar a ostentação de vaidades por parte de Irmãos que exibem seus aventais
e insígnias em meio às Lojas e até mesmo no mundo profano, trazendo consigo
sempre uma opinião pétrea e segura sobre o que pensa, sem declinar
respeitosamente à opinião alheia. No entanto, também sem muito esforço,
analisando comentários postados e artigos publicados, inúmeras são as
manifestações de preconceito, de arrogância e de falta de conhecimento que
crescem como pragas neste terreno fértil de ervas daninhas. E aqueles que
querem se aparecer, conseguem seus quinze minutos de fama facilmente. É claro
que a necessidade de expressão sempre foi algo latente no homem, e tais
discussões relacionadas à divergência de opiniões sempre foram presentes na
história da humanidade. Sem elas, muitos feitos, revoluções e progressos
sociais jamais teriam êxito. Mas como em toda guerra, há regras a serem
seguidas, e tentar propagandear algo de si mesmo com o intuito de demonstrar
superioridade é algo que não muda a opinião de ninguém.
Se analisarmos a(s) história(s) da(s)
maçonaria(s) - para aqueles que de fato estudam, e não apenas papagaiam o que
escutam de outros – perceberemos como as divergências de opiniões geraram
rixas, conflitos, cisões e a formação de diversas outras Potências, maçônicas
ou não, ao redor do mundo. E tudo muito antes da famosa Constituição de
Anderson de 1723. No Império Bizantino, em seus mais de mil anos de duração, as
divergências teológicas foram temas centrais da sociedade política e religiosa
deste período, onde jamais se chegou a um acordo a respeito, por exemplo, da natureza
de Deus. Resulta daí a cisão da Igreja em Apostólica Romana e Ortodoxa. A
palavra “ortodoxo”, inclusive, vem do grego orthos (correto) e doxo (opinião).
O que seria, necessariamente, a “opinião correta”? De qual ponto de vista ela é
gerada? Quem a define? Com quais interesses?
São estas as perguntas que devemos fazer
quando apontamos se algo é verdadeiro ou não. É evidente que devemos estar
atentos para os espertalhões, charlatões e enganadores que usam de suas
verdades com interesses próprios relacionados ao poder, à luxúria e ao alimento
de suas vaidades. É com eles que devemos ser implacáveis e justiceiros, em
honra ao juramento que prestamos. A Maçonaria, como é sabido, tem sua
“oficialização” a partir de interesses da coroa inglesa da qual Anderson era
servo, episódio da história, inclusive, muito pouco conhecido e estudado de
forma séria pelos maçons. Isso anula, no entanto, a existência da Maçonaria
antes de 1723? Teria ela surgida por um sopro divino, quase como que um milagre
em meio aos ingleses daquela época? E maçons que não fossem aclamados pelo
documento de Anderson, não existiriam? Não seria muita prepotência considerar
que apenas um único grupo em determinado episódio da história fosse detentor de
todo e qualquer poder em relação à Maçonaria apenas por definir dogmaticamente
sua existência? Por este prisma, seriam cristãos então apenas os católicos? Os
demais seriam todos falsos enganadores e inimigos de Deus?
Não temos a intenção de denegrir os que
crêem e seguem os princípios maçônicos de acordo com todos os Landmarks
advindos do período mencionado. Sem eles, talvez nem seríamos o que somos hoje.
Respeitamos, acima de tudo, toda e qualquer forma de se fazer maçonaria, seja
ela reconhecida por Grandes Lojas pelo mundo ou não, mista (formada por homens
e mulheres, ricos e pobres), ou não. O mundo é muito vasto e sua história muito
ampla para alimentarmos a falsa ilusão de que somos detentores de uma única
verdade. Para a Soberana Grande Loja Maçônica do Brasil, os mesmos princípios
que definem, por exemplo, um cristão, ou seja, suas ações, definem também um
maçom. Reconhecemos a todos os que se fizeram maçons e que enxergaram a Luz
única e exclusivamente pelos Sinais, Toques e Palavras, seja este homem ou
mulher advindo de qualquer parte do mundo. Reconhecemos e acolhemos os maçons
com a hospitalidade e generosidade que juramos prestar, a qualquer um que delas
mereça por suas ações. Respeitamos todos com suas diversas opiniões, desde que
se façam respeitar e que saibam que suas verdades também não são únicas.
Irmãos e Irmãs, de obediências maçônicas
ou não, saibamos utilizar a tolerância e a temperança. Não sejamos como a
maioria que só procurar afastar ainda mais os obreiros de perto de si com sua
arrogância e egoísmo, traindo, assim, uma das mais importantes premissas de
nossos juramentos. Maçons de todo orbe, com cinco, vinte ou trinta anos de
maçonaria, sejamos parte de uma nova geração de obreiros pensantes, livres do
fanatismo e forjados no fogo brando para uma luta que não deve ser travada
entre nós mesmos, mas sim contra a corrupção que assola nosso país, contra as
injustiças sociais e contra os jubelos que teimam em se manifestar em nossos
corações, porque o mundo já está farto destas desgraças, e transformarmos nossas
Lojas e Obediências em uma arena de rinha de galos só nos levará à nossa
própria derrocada.
Estejamos em Pé e à Ordem para o mundo, e
tenhamos em mente que a regularidade maçônica se define apenas pelas boas ações
que empreendemos advindas de nosso espírito pacientemente lapidado nos
mistérios de nossa ordem universal.
Ir.’. Rui Barbosa 33.’.
G.’.M.’. Adjunto da S.’.G.’.L.’.M.’.B.’.